É
comum às pessoas ligarem a expressão “Lei de Deus”, a um enorme fardo a que
somos obrigados a carregar. Sempre que ouvimos essa expressão a associamos logo
a um monte de regras ou normas que nos obrigam a fazer isso ou aquilo. Contudo,
esse não foi o propósito de Deus ao nos dar a sua lei.
Hoje
veremos que a lei de Deus e, especificamente, o 4º mandamento (ou a guarda do
Dia do Senhor) visava o bem do homem. Veremos também o que acontece quando a
lei de Deus é mal compreendida, e por fim, veremos para onde apontava
originalmente o sábado, ou Shabat.
Elucidação:
Após
explicar aos fariseus às razões pelas quais os seus discípulos ainda não
jejuavam (como vimos no último sermão), Jesus atravessa uma plantação de milho
num dia de sábado (provavelmente em direção a sinagoga da cidade), no meio do
caminho os seus discípulos passam a colher espigas para se alimentar, então
vemos Jesus envolvido em mais uma controvérsia com os fariseus, desta feita
sobre o 4º mandamento. É o que observamos (V. 23, 24).
“Ora, aconteceu atravessar Jesus, em dia de sábado,
as searas, e os discípulos, ao passarem, colhiam espigas.
Advertiram-no os fariseus: Vê! Por que fazem o que não é
lícito aos sábados?”
I- QUAL É O PROPÓSITO DO 4º MANDAMENTO?
Assim
como nos dias de Jesus, existe muita confusão e dúvida sobre o 4º mandamento
entre os próprios cristãos. Há aqueles que afirmam que esse mandamento fazia
parte da lei cerimonial. Contudo, se dissermos que esse mandamento faz parte da
lei cerimonial, e que, portanto, não tem validade para os nossos dias,
estaremos quebrando a unidade da lei de Deus. Além do mais, alguém poderia
manipular a interpretação dos outros nove mandamentos e dizer que eles também
foram cerimoniais e restritos aos israelitas na antiga aliança.
Existem
outros que afirmam que todos os dias são santos por serem criados por Deus,
portanto você é quem deve dizer qual dia você terá um tempo disponível para
adorar a Deus. De acordo com essa visão você só adora a Deus quando tem tempo.
Contudo, não é isso que o mandamento claramente nos ensina. O mandamento nos
fala de um dia determinado por Deus e que visava o descanso das demais
atividades. O 4º mandamento faz parte da lei moral de Deus, na nova aliança o
dia pode ter sido mudado, mas como afirma Joseph Pipa, “dia mudado, mas
obrigação não mudada”.
Contudo,
será que isso significa que os cristãos estão obrigados a andar somente um Km
durante o domingo? Ou que os cristãos não podem nem se alimentar nesse dia?
Voltando
ao nosso texto, vemos que os fariseus estavam acusando os discípulos de estarem
fazendo uma colheita no dia de sábado, o que a lei proibia:
“Seis dias trabalharás, mas, ao
sétimo dia, descansarás, quer na aradura, quer na sega”. (Êx 34. 21).
Contudo, os discípulos não estavam quebrando a lei de Deus,
eles não estavam fazendo uma colheita, uma colheita era feita com uma foice.
Eles estavam tirando com as mãos e comendo, o que era permitido pela lei:
“Quando entrares na seara do teu
próximo, com as mãos arrancarás as espigas; porém na seara não meterás a
foice”. (Dt 23. 25).
Nos
(V. 25, 26), Jesus não justifica o comportamento dos discípulos à parte
da lei de Deus, mas demonstra um conhecimento e uma aplicação profunda da Lei em
todas as circunstâncias:
“Mas ele lhes respondeu: Nunca lestes o que fez Davi,
quando se viu em necessidade e teve fome, ele e os seus companheiros? Como
entrou na Casa de Deus, no tempo do sumo sacerdote Abiatar, e comeu os pães da
proposição, os quais não é lícito comer, senão aos sacerdotes, e deu também aos
que estavam com ele?”.
Aqui, nós destacamos dois fatos interessantes:
1- É que Jesus diz “Nunca lestes?”, isso era uma afronta
aos fariseus que se julgavam mestres da lei.
2- É que quando Jesus cita o caso de Davi, que de certa
forma quebrou a lei num dia de sábado, quando comeu dos pães que só os
sacerdotes podiam comer, ele estava se igualando a Davi, o que também era uma
afronta aos judeus.
No (V. 27) Jesus nos fala do propósito do 4º
mandamento:
“E acrescentou: O sábado foi estabelecido por causa do
homem, e não o homem por causa do sábado”.
Os fariseus estavam tão cegos (assim como muitos hoje)
que não conseguiam entender que o propósito original de Deus ao estabelecer um
dia de descanso em sete, visava primordialmente o bem estar físico e espiritual
do homem. Jesus nos lembra desse propósito estabelecido em Gn 2. 2,3:
“E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que
fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus
o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como
Criador, fizera”.
Deus não queria que o homem fosse um escravo do trabalho,
um materialista, idólatra e avarento. Dentro do 4º mandamento nós podemos
enxergar a graça de Deus ao nos proporcionar repouso para o nosso corpo, mente
e alma.
II- JESUS E O SÁBADO (V. 28).
“de sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado”.
Se os judeus ficaram enfurecidos com o fato de Jesus se
comparar a Davi, imagine como não devem ter ficado ao ouvirem Jesus se dizer
Criador do sábado!
É como se Jesus tivesse dito: eu estava lá quando o sábado
foi criado, eu sei qual é a função original dele.
Jesus é o alvo para onde aquele descanso sabático apontava. Nas
palavras do reformador João Calvino: na
antiga aliança “esse dia foi uma sombra porque continha a observação meramente
exterior do dia”.
Em Cristo, o shabat tem um significado mais profundo.
1- Com a ressurreição do Senhor no primeiro dia da semana,
esse dia foi mudado para o domingo, que é o sábado cristão. Frequentemente, os
sabatistas acusam os cristãos reformados de adulterar o 4º mandamento, e dizem
que foi o Imperador Constantino quem instituiu a guarda do Domingo em 321 d.C.
Contudo, a lei que Constantino promulgou proibindo o comércio
no Dia do Senhor em todo o império romano, apenas refletia uma prática
observada pela igreja do NT. Basta conferirmos as referências em At 20. 7; 1 Co
16. 2, além do fato de o dia de pentecostes ter sido nesse dia. Por isso que
João no apocalipse (1. 10) se refere a esse dia como o “dia do Senhor” – uma
referência clara ao Senhor Jesus Cristo.
2- Em Hebreus 4, o
sábado tem mais uma vez o seu sentido enriquecido. Ele simboliza o
descanso do povo de Deus em Cristo, a paz em que vive o crente por haver
sido perdoado. O descanso prometido e prefigurado no
antigo pacto é finalmente alçando na ressurreição de Cristo, "O qual por
nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação" (Rm
4:24).
Aplicação:
1- A LEI DE DEUS
É UMA DÁDIVA DA SUA GRAÇA. Como vimos, a lei de Deus não é um fardo, nem tão
pouco restritiva. Ela é protetora, ela visa o nosso bem, ela não salva, mas
aponta para quem pode nos salvar.
2- O LEGALISMO
NOS CEGA DO VERDAEIRO SENTIDO DA PALAVRA-LEI DE DEUS. Todo legalismo é
exclusivista. Infelizmente, nós não encontramos legalismo apenas nas seitas,
mas muitas vezes o que divide a igreja do Senhor no Brasil e no mundo é o
legalismo (a prova disso são as divisões que existem por conta do Dia do
Senhor).
3- SÓ ENCONTRAREMOS O DESCANSO VERDADEIRO EM
CRISTO. Ele disse: Vinde a mim, todos vós que estais cansados e oprimidos e eu
vos aliviarei”!
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