domingo, 12 de janeiro de 2014

O Sábado e o nosso Descanso em Cristo - Mc 2. 23-28

Introdução:

É comum às pessoas ligarem a expressão “Lei de Deus”, a um enorme fardo a que somos obrigados a carregar. Sempre que ouvimos essa expressão a associamos logo a um monte de regras ou normas que nos obrigam a fazer isso ou aquilo. Contudo, esse não foi o propósito de Deus ao nos dar a sua lei.

Hoje veremos que a lei de Deus e, especificamente, o 4º mandamento (ou a guarda do Dia do Senhor) visava o bem do homem. Veremos também o que acontece quando a lei de Deus é mal compreendida, e por fim, veremos para onde apontava originalmente o sábado, ou Shabat.

Elucidação:

Após explicar aos fariseus às razões pelas quais os seus discípulos ainda não jejuavam (como vimos no último sermão), Jesus atravessa uma plantação de milho num dia de sábado (provavelmente em direção a sinagoga da cidade), no meio do caminho os seus discípulos passam a colher espigas para se alimentar, então vemos Jesus envolvido em mais uma controvérsia com os fariseus, desta feita sobre o 4º mandamento. É o que observamos (V. 23, 24).

“Ora, aconteceu atravessar Jesus, em dia de sábado, as searas, e os discípulos, ao passarem, colhiam espigas. Advertiram-no os fariseus: Vê! Por que fazem o que não é lícito aos sábados?”

I- QUAL É O PROPÓSITO DO 4º MANDAMENTO?

Assim como nos dias de Jesus, existe muita confusão e dúvida sobre o 4º mandamento entre os próprios cristãos. Há aqueles que afirmam que esse mandamento fazia parte da lei cerimonial. Contudo, se dissermos que esse mandamento faz parte da lei cerimonial, e que, portanto, não tem validade para os nossos dias, estaremos quebrando a unidade da lei de Deus. Além do mais, alguém poderia manipular a interpretação dos outros nove mandamentos e dizer que eles também foram cerimoniais e restritos aos israelitas na antiga aliança.

Existem outros que afirmam que todos os dias são santos por serem criados por Deus, portanto você é quem deve dizer qual dia você terá um tempo disponível para adorar a Deus. De acordo com essa visão você só adora a Deus quando tem tempo. Contudo, não é isso que o mandamento claramente nos ensina. O mandamento nos fala de um dia determinado por Deus e que visava o descanso das demais atividades. O 4º mandamento faz parte da lei moral de Deus, na nova aliança o dia pode ter sido mudado, mas como afirma Joseph Pipa, “dia mudado, mas obrigação não mudada”.

Contudo, será que isso significa que os cristãos estão obrigados a andar somente um Km durante o domingo? Ou que os cristãos não podem nem se alimentar nesse dia?

Voltando ao nosso texto, vemos que os fariseus estavam acusando os discípulos de estarem fazendo uma colheita no dia de sábado, o que a lei proibia:

“Seis dias trabalharás, mas, ao sétimo dia, descansarás, quer na aradura, quer na sega”. (Êx 34. 21).

Contudo, os discípulos não estavam quebrando a lei de Deus, eles não estavam fazendo uma colheita, uma colheita era feita com uma foice. Eles estavam tirando com as mãos e comendo, o que era permitido pela lei:

“Quando entrares na seara do teu próximo, com as mãos arrancarás as espigas; porém na seara não meterás a foice”. (Dt 23. 25).

Nos (V. 25, 26), Jesus não justifica o comportamento dos discípulos à parte da lei de Deus, mas demonstra um conhecimento e uma aplicação profunda da Lei em todas as circunstâncias:

“Mas ele lhes respondeu: Nunca lestes o que fez Davi, quando se viu em necessidade e teve fome, ele e os seus companheiros? Como entrou na Casa de Deus, no tempo do sumo sacerdote Abiatar, e comeu os pães da proposição, os quais não é lícito comer, senão aos sacerdotes, e deu também aos que estavam com ele?”.

Aqui, nós destacamos dois fatos interessantes:

1- É que Jesus diz “Nunca lestes?”, isso era uma afronta aos fariseus que se julgavam mestres da lei.

2- É que quando Jesus cita o caso de Davi, que de certa forma quebrou a lei num dia de sábado, quando comeu dos pães que só os sacerdotes podiam comer, ele estava se igualando a Davi, o que também era uma afronta aos judeus.

No (V. 27) Jesus nos fala do propósito do 4º mandamento:

“E acrescentou: O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado”.

Os fariseus estavam tão cegos (assim como muitos hoje) que não conseguiam entender que o propósito original de Deus ao estabelecer um dia de descanso em sete, visava primordialmente o bem estar físico e espiritual do homem. Jesus nos lembra desse propósito estabelecido em Gn 2. 2,3:

“E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera”. 

Deus não queria que o homem fosse um escravo do trabalho, um materialista, idólatra e avarento. Dentro do 4º mandamento nós podemos enxergar a graça de Deus ao nos proporcionar repouso para o nosso corpo, mente e alma.

II- JESUS E O SÁBADO (V. 28).

“de sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado”.

Se os judeus ficaram enfurecidos com o fato de Jesus se comparar a Davi, imagine como não devem ter ficado ao ouvirem Jesus se dizer Criador do sábado!
É como se Jesus tivesse dito: eu estava lá quando o sábado foi criado, eu sei qual é a função original dele.

Jesus é o alvo para onde aquele descanso sabático apontava. Nas palavras do reformador João Calvino:  na antiga aliança “esse dia foi uma sombra porque continha a observação meramente exterior do dia”.

Em Cristo, o shabat tem um significado mais profundo.

1- Com a ressurreição do Senhor no primeiro dia da semana, esse dia foi mudado para o domingo, que é o sábado cristão. Frequentemente, os sabatistas acusam os cristãos reformados de adulterar o 4º mandamento, e dizem que foi o Imperador Constantino quem instituiu a guarda do Domingo em 321 d.C.

Contudo, a lei que Constantino promulgou proibindo o comércio no Dia do Senhor em todo o império romano, apenas refletia uma prática observada pela igreja do NT. Basta conferirmos as referências em At 20. 7; 1 Co 16. 2, além do fato de o dia de pentecostes ter sido nesse dia. Por isso que João no apocalipse (1. 10) se refere a esse dia como o “dia do Senhor” – uma referência clara ao Senhor Jesus Cristo.

2- Em Hebreus 4, o sábado tem mais uma vez o seu sentido enriquecido. Ele simboliza o descanso do povo de Deus em Cristo, a paz em que vive o crente por haver sido perdoado. O descanso prometido e prefigurado no antigo pacto é finalmente alçando na ressurreição de Cristo, "O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação" (Rm 4:24).

Aplicação:

1- A LEI DE DEUS É UMA DÁDIVA DA SUA GRAÇA. Como vimos, a lei de Deus não é um fardo, nem tão pouco restritiva. Ela é protetora, ela visa o nosso bem, ela não salva, mas aponta para quem pode nos salvar.

2- O LEGALISMO NOS CEGA DO VERDAEIRO SENTIDO DA PALAVRA-LEI DE DEUS. Todo legalismo é exclusivista. Infelizmente, nós não encontramos legalismo apenas nas seitas, mas muitas vezes o que divide a igreja do Senhor no Brasil e no mundo é o legalismo (a prova disso são as divisões que existem por conta do Dia do Senhor).

3- SÓ ENCONTRAREMOS O DESCANSO VERDADEIRO EM CRISTO. Ele disse: Vinde a mim, todos vós que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei”!







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