Qual a relação entre a Lei e o Evangelho? Existe alguma ligação entre personagens do Antigo Testamento e Jesus Cristo? Qual o propósito da Lei de Deus?
São questionamentos que vamos responder observando o texto em apreço.
ELUCIDAÇÃO:
A forma como Paulo demonstra o projeto da salvação pela graça tem base no Antigo Testamento. Com o objetivo de compreendermos o seu raciocínio é necessário observar tanto a história quanto a teologia que se encontram por trás do seu argumento.
O Argumento Histórico
Quando Deus chamou Abraão lhe prometeu que a sua descendência seria numerosa, disse-lhe ainda que ele e seus descendentes seriam herdeiros de uma terra. Estas promessas feitas a Abraão, Deus as confirmou para o seu filho Isaque, e depois para seu neto Jacó. Porém, Jacó morreu fora da terra prometida, no Egito. Os doze filhos de Jacó morreram no exílio.
O versículo 17 fala de um período de 430 anos, o qual corresponde ao espaço de tempo entre Abraão e Moisés, mas também a escravidão no Egito.
Então, séculos mais tarde, Deus levantou Moisés, e através deste libertou os israelitas da escravidão e deu-lhe a Lei no Monte Sinai. Percebam a ligação entre Abraão e Moisés.
O Argumento Teológico
A forma como Deus trabalhava com Abraão e Moisés fundamentava-se em dois princípios distintos.
A Abraão Deus deu uma promessa. A Moisés concedeu uma Lei, resumida nos dez mandamentos.
A promessa apresenta: o plano de Deus, a graça de Deus e a iniciativa de Deus. Mas a Lei apresenta: o dever do homem, as obras do homem e a responsabilidade do homem. A promessa apenas precisava da fé. Mas, a Lei exigia obediência.
A conclusão a qual Paulo chega é que a fé cristã é a fé de Abraão, e não a de Moisés; da promessa e não da lei.
Contudo, não podemos colocar um contra o outro, Abraão e Moisés, a promessa e a lei. Como Deus é o Criador e Autor de ambas, Ele teve um bom propósito para ambas. Qual é então a relação existente entre a promessa e a lei?
1. A Lei Não Anula a Promessa de Deus (vs. 15 – 18).
No Versículo 15, Paulo destaca que os desejos e as promessas expressos num testamento são inalteráveis. Certamente, o Apóstolo está se referindo a antiga lei grega, através da qual um testamento, uma vez confirmado, não podia ser revogado nem modificado.
Então, se um testamento humano não pode ser ignorado nem modificado, muito menos as promessas de Deus, que são imutáveis (vs. 17).
A que promessa divina o apóstolo está se referindo? A promessa que o Poderoso Deus fez a Abraão, de que a sua descendência seria numerosa e que herdaria a terra.
Portanto, Paulo compreende que a terra que fora prometida e a semente numerosa, eram em ultima análise espirituais, também com base no que disse Jesus: “E não presumais de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão” (Mt. 3: 9).
No versículo 16, O Apóstolo argumenta que o objetivo de Deus não era somente dar a terra de Canaã aos judeus, mas sim dar a salvação aos crentes que estão em Cristo. A expressão singular “semente” refere-se a Cristo e a todos que estão em Cristo pela fé.
Era essa a promessa de Deus, livre e incondicional, não havia obras a realizar, nem leis a obedecer, nem méritos a estabelecer, Deus simplesmente disse: “Eu lhe darei uma semente. A sua semente eu lhe darei a terra, e em sua semente todas as famílias da terra serão abençoadas”.
Conforme o versículo 18, Paulo está contradizendo os judaizantes, pois ele afirma que, se a herança provém de lei, anulamos a promessa graciosa de Deus. “Mas, foi pela promessa que Deus concedeu gratuitamente a Abraão”. Perceba os termos: “concedeu gratuitamente”, a palavra original “kecharistai” enfatiza as duas coisas, que é um presente da graça e que foi concedido para sempre (tempo perfeito). Deus não volta atrás em sua promessa.
Sendo assim, qualquer pessoa que coloca sua confiança em Jesus Cristo crucificado para salvação, recebe pela graça, a vida eterna, herdando a promessa que Deus fez a Abraão.
PROPOSIÇÃO: Qual é então a relação existente entre a promessa e a lei?
2. A Lei Ilumina a Promessa de Deus e a Torna Indispensável (vs. 19 – 22).
Paulo explica a verdadeira função da lei de Deus em relação à promessa, através de duas perguntas retóricas:
Primeira pergunta: Qual é a razão de ser da lei? (vs. 19 e 20) = É provável que esta era a pergunta dos judaizantes, acusando Paulo de excluir Moisés e a Lei.
Mas, o apóstolo tinha sua resposta preparada: “Foi adicionada por causa das transgressões” (vs. 19). A função da lei não era conceder salvação, mas conscientizar o homem da necessidade desta. Pois, Paulo diz em Romanos: “pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”, e, “ eu não teria conhecido pecado se não por intermédio da lei” (Rm. 3:20; 7: 7).
Quando o pecador é confrontado com a lei de Deus, ele percebe que está perdido, e que precisa de um salvador. Então, vejamos o complemento do versículo 19: “até que viesse o descendente a quem se fez a promessa”. A lei olhava para Cristo, a semente de Abraão, como a pessoa através de quem a transgressão seria perdoada.
No final do versículo 19 e verso 20, o apóstolo está argumentando sobre a superioridade da aliança que Deus fez com Abraão em comparação a Aliança com Israel no Monte Sinai.
Pois, Moisés foi mediador entre Deus e Israel quando Deus estabeleceu a sua aliança com Israel no Monte Sinai. A promessa dada a Abraão não precisou de mediador, por isso, é superior a aliança do Sinai.
Segunda Pergunta: É, porventura, a lei contrária as promessas de Deus? (vs. 21, 22). Parece-nos que esta era a pergunta de Paulo aos judaizantes. Ele está os acusando de fazer a lei contradizer o evangelho, as promessas de Deus.
O ensino judaizante era: “guarde a lei e você terá vida”, o problema é que ninguém guardou integralmente a lei de Deus, se alguém conseguisse guardar, então a salvação seria mediante a obediência da lei, é isso que Paulo argumenta no versículo 21 b.
Sendo assim, como é possível estabelecer uma conexão entre a lei e a promessa? Observando que os homens herdam a promessa porque não conseguem guardar a lei, e, essa incapacidade torna a promessa desejável e indispensável.
“Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, a fim de que a promessa, que é pela fé em Jesus Cristo, fosse dada aos que creem” (vs. 22).
CONCLUSÃO:
Qual a relação entre a Lei e o Evangelho? Existe alguma ligação entre personagens do Antigo Testamento e Jesus Cristo? Qual o propósito da Lei de Deus?
Então, no texto que analisamos percebemos que a relação entre lei e evangelho (prefigurado na promessa do descendente) é real e intrínseca. Observamos essas verdades nos personagens que foram citados pelo apóstolo Paulo, indicando assim, que a Bíblia não é um emaranhado de ideias perdidas e desconexas, a Bíblia é uma unidade harmoniosa que mostra o plano soberano da graça de Deus através de Jesus Cristo.
Entendemos ainda, que a Lei de Deus, mostra o quanto somos pecadores e desobedientes, e portanto, necessitamos urgentemente de um salvador, que é Jesus Cristo, a semente de Abraão, que assumiu o nosso pecado na cruz e trouxe-nos salvação.