terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Jejum: tempo de sorrir e tempo de chorar - Mc 2. 18-22

Introdução:

Os preparativos para um casamento são, com certeza, momentos muito emocionantes na vida de duas pessoas. Quando digo emocionante, não falo apenas de alegria, mas também de stress, de choro, de ansiedade, raiva, decepção etc.

O texto que lemos, nos fala sobre esse momento de preparação para o casamento. Se nos recordarmos um pouco, e voltarmos alguns versos, veremos que que no último sermão que pregamos aqui, Jesus e os seus discípulos estavam em um banquete, o banquete foi realizado na casa de um dos seus novos discípulos – Mateus ou Levi.

De certa forma, os discípulos de Jesus viviam em festa, Jesus não recusava convites para um banquete. No início do seu ministério ele foi a uma festa de casamento (Jo 2), estava sempre comendo com aqueles que eram considerados pecadores pelos fariseus. A questão é, por que Jesus agia desse modo? Qual era o motivo para a festa?

No (V. 18) vemos o questionamento dos fariseus:

Ora, os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando. Vieram alguns e lhe perguntaram: Por que motivo jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus discípulos não jejuam?

A preocupação dos fariseus não era com a suposta falta de espiritualidade de Jesus e dos seus discípulos, mas sim a questão de manter os rituais, pois a essencia da religião deles era o ritualismo.

Provavelmente, segundo Mattew Henry, esse fosse o dia em que os fariseus costumavam jejuar (já que jejuavam das vezes por semana Lc 18. 12).
A resposta de Jesus aos fariseus é o que dará o tema do meu sermão esta noite:
I – O motivo da alegria dos discípulos (V. 19).
Respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, jejuar os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Durante o tempo em que estiver presente o noivo, não podem jejuar.

Com essa resposta, Jesus compara a sua presença na terra com uma festa de casamento. As Escrituras por diversas vezes comparam o relacionamento de Iavé com o seu povo e de Cristo com a igreja com um casamento (Is 50. 1; 54. 1; 62. 5; Mt 25; Ef 5. 32).

O que Jesus estava dizendo é que os seus discípulos não tinham motivo para jejuar, pois a chegada do Reino, bem como a presença do Noivo eram o cumprimento das profecias do AT.

Para os discípulos de João, que ainda não estavam cientes da presença do Noivo era perfeitamente compreensível que eles jejuassem, pois eles aguardavam o Messias. Para os fariseus era uma questão de mero ritualismo, mas para os discípulos de Jesus era tempo de sorrir.

Aplicação:

Meus irmãos, a vida cristã não é só de lutas e de tristezas, há momentos de gozo. Há vitórias, há casamentos, há nascimentos, há vida. O culto dominical é onde ensaiamos para o nosso encontro com o Noivo. Na igreja nós temos a oportunidade de termos comunhão, há batismos, profissão de fé, amizades verdadeiras, jantares comunitários, alegria.

Contudo, nós não somos triunfalistas. Não acreditamos em jargões do tipo “crente só vive alegre” ou “o melhor de Deus ainda está por vir”. Sabemos que a vida cristã tem também momentos de choro.

II- Tempo de chorar (V. 20).

Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; e, nesse tempo, jejuarão.

Há espaço para o jejum na igreja hoje?

Antes de responder a essa pergunta precisamos definir o que é jejum:

Jejuar é simplesmente abster-se de alimento, ou de alimento e água por algum tempo.

Na igreja moderna existem ideias equivocadas sobre o que seja o jejum. Existem aqueles que imaginam que o jejum é uma maneira de forçar a Deus a fazer aquilo que eu desejo.

Qual deve ser o objetivo do Jejum?

Ronald Hanko resumiu muito bem a ideia bíblica do jejum, ele disse: “Jejuamos com o objetivo de negar a carne, e nos entregar totalmente às coisas espirituais”.

John Piper definiu muito bem o jejum como sendo uma “fome por Deus”.

Com certeza, existe um lugar para o jejum na igreja de hoje. Embora a lei só tenha prescrito uma ocasião para o jejum (no dia da expiação Lv 16. 29- 34). O jejum tornou-se uma prática da espiritualidade israelita desde muito cedo na história bíblica. No NT nós temos mais de trinta referências ao jejum. Na igreja primitiva vemos que essa era uma prática comum ( At 13). 

É bíblico jejuar. Contudo, como tudo mais que fazemos, precisamos tomar cuidado para não distorcer essa prática, tornando-a uma prática orgulhosa. Os fariseus tinham caído nesse pecado:

Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu, porém, quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto, com o fim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. (Mt 6. 16-18).

João Crisóstomo, patriarca de Constantinopla definiu o jejum como uma prática essencialmente humilde:
Você jejua? Dê-me prova disto por suas obras.
Se você vê um homem pobre, tenha piedade dele.
Se você vê um amigo sendo honrado, não o inveje.
Não deixe que somente a sua boca jejue, mas também o olho e o ouvido e o pé e as mãos e todos os membros do seu corpo.
Que as mãos jejuem, sendo livres de avareza.
Que os pés jejuem, cessando de correr atrás do pecado.
Que os olhos jejuem, disciplinando-os a não fitarem o que é pecaminoso.
Que os ouvidos jejuem, não ouvindo conversas más e fofocas.
Que a boca jejue de palavras vis e de criticismo injusto.
Porque, qual é o proveito se nos abstemos de aves e peixes, mas mordemos e devoramos os nossos irmãos?
Possa Aquele que veio ao mundo para salvar pecadores nos fortaleça para completarmos o jejum com humildade, tendo misericórdia de nós e nos salvando.
Nós vivemos em um mundo caído. A era da igreja, que é o tempo entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, é também um tempo marcado também pela dor, pelo sofrimento, pela morte e pelo choro.
Quando Jesus disse que chegaria um tempo em que os seus discípulos jejuariam ele falava de um tempo em que não estaria mais fisicamente com eles. Daí a necessidade da igreja jejuar para nos preparar para o encontro com o Noivo novamente.
Nos versos 21 e 22, Jesus reforça a sua resposta em forma de parábola:
Ninguém costura remendo de pano novo em veste velha; porque o remendo novo tira parte da veste velha, e fica maior a rotura. Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em odres novos.

Jesus está mais uma vez mostrando aqueles homens que ra uma tolice manter as estruturas e rituais do passado. As sombras tinham passado, os rituais não tinham mais significado, eles estevam diante do NOVO. A realidade tinha chegado.


Aplicação:

A igreja moderna tem uma fixação por elementos do AT. Algumas igrejas acham que se tocarem instrumentos de Israel, tais como harpas ou chofar se tornarão mais espirituais. Outras batizam os seus membros no rio Jordão, outras trazem candelabros e arca da aliança para dentro do seu culto.

Quem procede dessa maneira ainda não entendeu que a realidade já chegou, que essas coisas apontavam para Cristo. Ele é o vinho novo.

Conclusão:

Hoje vimos que a vida cristã é marcada tanto pela alegria quanto pelo choro. Aprendemos que existe uma maneira bíblica de praticarmos o jejum, e que é importante nos preparar para o nosso encontro com o Noivo.