segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O Sexto Mandamento-(Êx 20.13)


Introdução:
Juntamente com o oitavo mandamento, esse é um dos mandamentos mais breves da Lei-Palavra de Deus. Talvez seja por isso que a grande maioria das pessoas tenha uma compreensão tão superficial dele. Muitos quando ouvem a sentença: “Não matarás”, dizem: “Veja só, aqui está um mandamento o qual eu nunca quebrei”. 

Quando alguém diz isso, demonstra que nunca compreendeu o real sentido daquelas palavras. Ela nunca entendeu o princípio por trás desta ordenança. Essa pessoa apenas leu a letra da lei e esqueceu-se do seu espírito.

Por trás de cada mandamento do Senhor há sempre um princípio regente, um princípio normativo. Este princípio deve ser compreendido e assimilado à nossa vida para só então podermos cumprir as exigências daquele.

Qual é, então, o princípio do sexto mandamento? Qual o porquê desta ordenança? O que o Senhor Deus quis dizer com o “não matarás”? 

I-O princípio que rege o sexto mandamento é o da proteção da vida.

Deus tinha em vista a preservação da maior de todas as Suas criações: o homem, feito à sua imagem (Gn 1:27):

“E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. 

João Calvino disse do sexto mandamento:

(as) “Escrituras nos dão duas razões sobre as quais se fundamenta o sexto mandamento. A primeira é que o ser humano é feito à imagem de Deus; a segunda é que somos todos a mesma carne. Portanto, agredir a vida, quer a de outro ou a nossa, constitui desrespeito a Deus que imprimiu Sua imagem no homem (Gn 9:6). E como Ele criou o gênero humano vinculando-o em uma unidade, foi-nos delegada a função de preservarmos tal unidade pelo cuidado mútuo”.

O valor que devemos dar a vida, não deve ser a vida pela “vida” (como um fim em si mesmo, como o fazem os humanistas), mas sim, porque Deus é Aquele que tira e que dá a vida. De modo, que tirar a vida de alguém é pecar contra esse direito e autoridade divina.

II-O lado positivo e negativo do sexto mandamento

Ninguém pense que cumprirá o sexto mandamento apenas agindo de forma negativa (não matando ninguém). No seu comentário do Pentateuco Calvino nos diz:

“Há, portanto, duas partes nesse mandamento: primeiro não devemos oprimir ou estar em inimizade com ninguém, e segundo, não devemos apenas viver em paz com os homens, mas também devemos ajudar o oprimido e resistir o mal”.

O catecismo Maior de Westminster resumiu assim as formas negativas e positivas relacionadas com esse mandamento:


P-136 CMW Quais são os pecados Proibidos no sexto mandamento?

1. O tirar a nossa vida ou a de outrem, exceto no caso de justiça pública, guerra legítima ou defesa necessária (At 16:27-28; Gn 9:6; Nm 35:31,33; Dt 20:1-20; Ex 22:2);

“Se o ladrão for achado roubando, e for ferido, e morrer, o que o feriu não será culpado do sangue”. 

2. A negligência ou retirada dos meios lícitos e necessários para a preservação da vida (Mt 25:42,43).

3. Sentimentos maus (Tg 2:15,16; Mt 5:22; I Jo 3:15).

4. Todas as paixões excessivas e cuidados demasiados, o uso inadequado de comida, bebida, trabalho e recreios (Mt 6:31,34; Lc 21:34; Ex 20:9,10; I Pe 4:3,4).

5. Palavras provocadoras (Pv 15:1; 12:18; Mt 5:22).

6. A opressão, a contenda, os espancamentos, os ferimentos e tudo o que tende à destruição da vida de alguém (Is 3:15; Ex 1:14; Gl 5:15; Nm 35:16; Ex 21:18-36).

P-135 Quais são os deveres exigidos no sexto mandamento?

1. Todo empenho cuidadoso e todos os esforços legítimos para a preservação de nossa vida e a de outros (Mt 10:23; Sl 82:4; Dt 22:8; Ef 4:26; Pv 22:24,25).

2. Fazer justa defesa da vida contra a violência (I Sm 26:9-11; Pv 24:11,12; I Sm 14:45).

3. Paciência em suportar a mão de Deus (Tg 5:8; Hb 12:5).

4. Espírito manso e alegre (Sl 37:8,11; Pv 17:22; I Ts 5:16).

5. O uso sóbrio de comida, bebida, remédios, sono, trabalho e recreios (Pv 33:20; 25:16; 23:29,30; I Tm 5:23; Mt 9:12; Is 38:21; Sl 127:2; II Ts 3:10,12; Mc 6:31).

6. Pensamentos e sentimentos puros, comportamento e palavras pacíficas, brandas e corteses (I Tm 4:8; I Co 13:4,5; I Sm 19:4,5; Rm 13:10; Pv 10:12; Zc 7:9; Cl 3:12).

7. Longanimidade e prontidão para se reconciliar, suportando pacientemente e perdoando as injúrias (Rm 12:18; I Pe 3:8,9; I Co 4:12,13; Cl 3:13; Tg 3:17; I Pe 2:20).

8. Dar bem por mal, confortando e socorrendo os conflitos, protegendo e defendendo o inocente (Rm 12:20-21; Mt 5:24; I Ts 5:14; Mt 25:35,36; Pv 31:8,9; Is 58:7).



III-Como harmonizar o sexto mandamento com a pena de morte instituída por Deus em (Gn 9:6)? Ou com as guerras e a questão de matar em defesa própria?

Em primeiro lugar, precisamos entender o que significa “matar” no sexto mandamento, para isso precisamos conhecer a palavra hebraica traduzida por “matar” em Ex 20:13. A palavra aqui encontrada é rasah e significa “o assassinato violento de um inimigo pessoal” (II Rs 6:32). Por isso “não assassinarás” seria uma tradução melhor. Este verbo nunca é usado para um assassinato em defesa própria (Ex 22:2), uma morte acidental (Dt 19:5), a execução de assassinos ou situação de guerra (Gn 9:6), homicídio não premeditado (Ex 21:12-14) ou homicídio acidental (Nm 35:23). Para estes casos existem seis outros vocábulos hebraicos.

O “não matarás” não pode ser uma reprovação à pena capital porque a lei de Deus prescrevia a pena máxima nos seguintes casos:

(a) assassinato premeditado (Ex 21:12-14);

(b) sequestro (Ex 21:16; Dt 24:7);

(c) adultério (Lv 20:10-21; Dt 22:22);

(d) homossexualismo (Lv 20:13);

(e) incesto (Lv 20:11,12,14);

(f) bestialidade (Ex 22:19; Lv 20:15,16);

(g) desobediência aos pais (Dt 17:12; 21:18-21);

(h) ferir ou amaldiçoar os pais (Ex 21:15; Lv 20:9; Mt 15:4);

(i) falsas profecias (Dt 13:1-10);

(j) blasfêmias (Lv 24:11-14);

(k) profanação do sábado (Ex 35:1; Nm 15:32-36);

(l) sacrifício aos falsos deuses (Ex 22:20).


O sexto mandamento e a guerra

Os pacifistas querem nos fazer pensar que esse mandamento proíbe a guerra legítima. Entretanto, as guerras não podem ser proibidas por estas palavras porque o próprio Deus foi, por várias vezes, o agente ativo de guerras no AT. Ele ordenou guerras contra Amaleque (Ex 17:8-16; I Sm 1:7-9), contra Jericó (Js 6:2ss), contra os filisteus (I Sm 1:7-14), contra os amonitas (I Sm 11:1-11) e muitos outros.

Deus é por várias vezes chamado de “homem de guerra” (Ex 15:3; Is 42:13). Um de Seus títulos é “Senhor dos exércitos”. Muitas vezes Ele combateu sozinho enquanto o exército de Israel só olhava (II Cr 20:17). Por isso os israelitas jamais consideraram o sexto mandamento como uma proibição à guerra, pois Deus não pretendera proibi-la.

A posição do cristão frente à guerra deve ser motivo de reflexão e julgamento (sempre à luz das escrituras), pois nem todas as guerras têm motivos justos.

O sexto mandamento e a eutanásia

Eutanásia significa literalmente “boa morte”. Ela é uma “prática pela qual se procura dar fim ao sofrimento de um doente em estado terminal”.

A eutanásia é uma tentativa de interferência na obra do Criador e Conservador da vida (At 17:25; Sl 104:4-30; Ec 8:8), ela é fruto de um humanismo egoísta e materialista que afirma que somente uma vida “útil” e saudável é digna de ser vivida. Quando a vida em si já possui grande valor porquanto é uma obra do Deus Criador.

A possibilidade da eutanásia livraria facilmente famílias fracas e sem valor cristão, pois veriam aí uma saída “legítima” para se livrarem de membros incômodos.


O sexto mandamento e o aborto

O aborto é a expulsão de um feto da barriga da mãe antes que ele complete seis meses. Neste episódio ele ainda não possui condição de sobrevivência no mundo aqui fora.

Alegam-se, hoje em dia, quatro motivos “justificáveis” para o aborto:

1. Motivo médico 2. Motivo ético/judicial 3. Motivo genético 4. Motivo social:


O sexto mandamento e o ensino de Jesus na nova aliança

(Mt 5:21-22)

“Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco será réu do fogo do inferno”. 

A interpretação tradicional dada pelos fariseus é totalmente contrariada por Cristo quando ele diz: “Ouvistes que foi dito” (tradição oral interpretativa), “Eu porém, vos digo” (o que jamais deve ser interpretado como uma contradição entre o que Deus diz na Antiga aliança e o que Cristo diz na nova).

No entanto, Jesus afirma o princípio da lei, dizendo que a ira sem motivo contra um irmão é o mesmo que homicídio literal. Não somente isso, o Senhor também nos diz jamais devemos proferir insultos contra o próximo. Jamais devemos manifestar desprezo por alguém. Raca significa “sujeito indigno”. Tal expressão e similares demonstram os maus desígnios do nosso coração.

 “Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios” (Mc 7:21).

Calvino disse: “É verdade que as mãos são quem levam a cabo o homicídio, mas o coração é quem o concebe, quando se sente incendiado em ódio e em ira”.

“Qualquer que odeia a seu irmão é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele”. (1 Jo 3:15).

A quebra do sexto mandamento reside justamente nas motivações e intenções do nosso coração. No v.12 João cita o caso de Caim e Abel. Quando foi que Caim matou o seu irmão? Será que foi quando ele consumou o ato? A história nos mostra que não (Gn 4:9) “E disse o SENHOR a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão?”. A atitude de desprezo nos revela que Caim o matou primeiro no coração.

Conclusão: 

Quero concluir com três aplicações práticas pra nós:

1-A vida é um dom de Deus, isso nos ensina que só ele é quem tem direitos legítimos sobre ela.

2-Uma atitude de covardia e omissão não deve ser confundida com a guarda do sexto mandamento, pois nós temos que fazer algo para proteger a vida.

3-Examinemos a nós mesmos! Quantas vezes temos quebrado esse mandamento! Devemos orar por arrependimento e, se porventura, temos algo contra alguém devemos perdoar e nos reconciliar, pois isso é infinitamente menor do que ele fez por nós.

Jairo Rivaldo

2 comentários:

  1. Obrigada pela exposição do texto , me ajudou muito; graça e pz do Senhor .

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  2. Obrigada pela exposição do texto , me ajudou muito; graça e pz do Senhor .

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