Até agora no evangelho
de Marcos, temos visto que os discípulos seguem a Jesus com grandes
expectativas de que Deus muito em breve estabelecerá o seu reino. A pregação de
Jesus em Mc 1. 15 apontava para isso. Contudo, aparentemente, o que crescia era
a oposição a Cristo. Como vimos nos capítulos anteriores, os líderes religiosos e a própria família de
Jesus eram os seus principais oponentes. A essa altura do campeonato, talvez alguns dos
seus discípulos estivessem se perguntando: será que eu apostei numa causa
perdida? Onde está o reino de Deus que eu não o vejo?
As parábolas do
capítulo 4 são, em grande parte, uma resposta a essa pergunta. Elas falam sobre
a natureza e sobre o crescimento do reino de Deus.
O texto que lemos
contém uma das mais conhecidas parábolas de Jesus. Trata-se da parábola do
semeador. Contudo, antes de adentrar-mos no texto dessa parábola, precisamos
definir o que é uma parábola.
O termo grego
“parabolé” significa jogar ao lado de, ou simplesmente, comparar. Ou seja, uma parábola é uma história
comparativa. Por isso, Jesus dizia frequentemente, “com que compararei o reino
de Deus...”. Um terço dos ensinamentos de Jesus no NT são em forma de
parábolas.
A parábola que Jesus
contou dos verso 3-9 deixou os seus apóstolos e discípulos confusos. O (v. 10) nos diz que “Quando Jesus ficou só, os que estavam junto dele com
os doze o interrogaram a respeito das parábolas”. Isso nos leva ao nosso primeiro ponto:
I- POR
QUE JESUS FALAVA POR PARÁBOLAS?
Algumas
pessoas acham que Jesus falava por parábolas para tornar a sua mansagem mais
ascessível. E elas dizem: veja, Jesus falava para os camponeses, por isso,
falava em sementes, animais, árvores etc.
Contudo,
não é isso o que nos diz os v. 11 e 12:
“Ele lhes respondeu: A vós
outros vos é dado conhecer o mistério do reino de Deus; mas, aos de fora, tudo
se ensina por meio de parábolas,
para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo,
ouçam e não entendam; para que não venham a converter-se, e haja perdão para
eles”.
O propósito das parábolas não era deixar as coisas mais
claras, mas era justamente o contrário. Muitas pessoas ficam chocadas quando
leem direito esse texto de Marcos, e percebem que Cristo não queria que algumas
pessoas entendessem a sua mensagem.
O verso 12 que Jesus cita nessa passagem é uma citação de
Isaías 6. 9-10
“para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo,
ouçam e não entendam; para que não venham a converter-se, e haja perdão para
eles”.
A profecia de Isaías se dirige aos israelitas que de
tanto caírem na idolatria (Cap 1-5) estavam se tornando semelhantes aos seus
ídolos: cegos, surdos e insensíveis.
É provável que Jesus tenha usado essa referência com o
mesmo propósito, pois, ele era o messias anunciado por Isaías, e assim como
Isaías pregou em um contexto de pessoas que rejeitaram a lei de Deus, Jesus
também estava pregando num contexto assim.
II- O SIGNIFICADO DA PARÁBOLA
Dos versos 14-20, Jesus explica aos seus discípulos o
significado da parábola.
No v. 14, ele fala da identidade e da tarefa do semeador.
“O semeador semeia a
palavra”.
Em primeira instância, Cristo falava dele mesmo. Ele é quem
semeia a Palavra, mas isso também é uma tarefa da sua igreja. (nossa
responsabilidade é como a do semeador, nós semeamos a Palavra e deixamos os
resultados com Deus.
No v. 15, ele nos fala da identidade daqueles que estão à
beira do caminho.
“São estes os da beira do caminho,
onde a palavra é semeada; e, enquanto a ouvem, logo vem Satanás e tira a
palavra semeada neles”.
Claramente essa é uma referência as pessoas que ainda não
foram regeneradas, pois estão a mercê de satanás. Como nos lembra Paulo em Ef
2. 2.
Nos v. 16 e 17, ele nos fala das conversões superficiais:
“Semelhantemente, são estes os semeados em solo
rochoso, os quais, ouvindo a palavra, logo a recebem com alegria. Mas eles não
têm raiz em si mesmos, sendo, antes, de pouca duração; em lhes chegando a
angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam”.
Quantos de nós não conhecem pessoas que frequentaram a
igreja por determinado tempo e que depois se afastaram. Pessoas que acreditaram
num evangelho de soluções de problemas, de cura física etc. Esse, com certeza
também um dilema para os primeiros seguidores de Jesus. Em determinados
momentos Jesus estava rodeado de uma grande multidão, mas bastava um discurso
mais duro para que essa multidão o abandonasse.
Nos versos 18 e 19 Jesus nos fala sobre aqueles que acham
que dois deuses podem sentar no mesmo trono: Deus e as riquezas, ou Deus e a
ambição.
“Os outros, os semeados entre os espinhos, são os
que ouvem a palavra, mas os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza e as
demais ambições, concorrendo, sufocam a palavra, ficando ela infrutífera”.
Finalmente, no verso 20 Cristo nos fala da existência da
“Boa terra”.
“Os que foram semeados em boa terra
são aqueles que ouvem a palavra e a recebem, frutificando a trinta, a sessenta
e a cem por um”.
Ou seja, existem pessoas que vão ouvir o evangelho e vão
crer nele. Essa é a natureza mistériosa do reino de Deus. Esse verso também nos
fala da extraordinária prosteridade do evangelho quando este realmente regenera
uma pessoa: ela dará fruto. O reino de Deus crescerá até que toda a terra se
encha do conheciemnto do Senhor como as águas cobrem o mar. (Is 11. 9).
Conclusão
O que os discípulos, e muitos de nós, não entendemos é a
soberania de Deus sobre tudo e sobre todos. O crescimento do Reino depende em
última instância da vontade soberana do Rei, contudo, isso não deve nos tornar
irresponsáveis (é aí que mora o problema) temos a responsabilidade de levar a
“semente”. Essa semente não é nada mais nada menos que todo o conselho de Deus.
Isso inclue não somente se preocupar com a “alma” das pessoas, mas com o homem
completo e também com a sociedade.
Aplicação:
O que nós aprendemos com essa parábola?
1- Nós somos privilegiados. Todos nós aqui sabemos que
não somos boas pessoas. Todos nós somos pecadores. Mas Deus se agradou
soberanamente de nós. Por causa de Cristo ele nos considera “boa terra”. Paulo
diz em Rm 5 que ele nos considera “justos”, ele nos considera seu povo.
2- Nós aprendemos que temos uma responsabilidade. Devemos
levar a semente do reino de Deus, sabendo que ele já chegou, mas Deus fará com
que ele cresça soberanamente. Precisamos levar as boas novas do reino onde
formos.